domingo, 17 de março de 2019

FALANDO SOBRE O SALMO 23


FALANDO SOBRE O SALMO 23

Verso 1

O salmo 23 fala sobre a relação pastor-ovelha; fala de confiança e dependência; aqui não tem espaço para auto-suficiência, somente para total dependência.

Conhecendo o autor deste salmo podemos classificar este salmo como sendo égloga ou écloga, isto é, uma verdadeira poesia pastoril.

Percebe-se de forma intrínseca e subjetiva, nesse poema, comparações perfeitas com o ambiente, quotidiano e atributos de um pastor de ovelhas, que somente um íntimo conhecedor desse labor poderia descrever.

Logo, percebe-se que seu autor, ou era um pastor ou conhecia muito bem esse ofício.

Apascentar ovelhas naquela época, exigia extrema dedicação. Os rebanhos, diversas vezes tinham de ser levados para lugares distantes das tendas, e seus guardadores permaneciam ausentes longos dias. Dadas às condições climáticas e geográficas do local, água e pasto não eram abundantes, e com essa distância, o risco do rebanho ser atacado por animais ferozes ou ladrões, era iminente, exigindo extremo zelo do pastor pela vida das ovelhas.

Devido a tantas ocasiões de perigo envolvendo a vida de Davi, o autor do Salmo 23, não é possível determinar em qual delas ele o tenha escrito, e se foi em uma dessas. No entanto, nota-se grande demonstração de confiança nesta posição de ovelha que Davi assume dentro do poema. Atribui-se a comparação que estabelece entre os cuidados do seu Senhor e do pastor, à experiência adquirida enquanto guardador do rebanho do seu pai, quando aprendera intimamente sobre a dependência da ovelha em relação aos cuidados do pastor.

Um texto como o Salmo 23, requer atenção intensificada, pois pertence a uma geração muito distante da atualidade e é composto por inúmeras figuras de linguagem podendo-se aplicar interpretações incoerentes com a intenção autoral.

Na atualidade, a maior parte da cultura ocidental entende por pastor, um líder espiritual, alguém ligado a uma denominação religiosa, já na cultura oriental, o termo pastor pode ser perfeitamente empregado àquele que cuida de rebanhos, inclusive ainda se mantém esse costume em boa parte do oriente.

Na cultura judaica, o pastor representava o guardador do rebanho, no sentido literal, mas também cabia essa imagem aos líderes do povo, os reis, profetas e sacerdotes, pois como dirigentes, tinham a função de guiá-los, tal qual a função do pastor com seu rebanho.

Veja por exemplo o verso registrado em 2 Crônicas 11:2 “[...] também o Senhor teu Deus te disse: Tu apascentarás o meu povo Israel, e tu serás chefe sobre o meu povo Israel”.

O ofício de um pastor de ovelhas, consistia e consiste em zelar e prover as necessidades do rebanho, de tal forma que se estabelece uma relação tão íntima, onde as ovelhas conhecem a voz do seu guia, não atendendo ao chamado de outro que não seja o seu. O pastor providencia a cada manhã o pasto e a água para o rebanho, pois as ovelhas por si só, não são capazes de sobreviverem, e ao findar da tarde, o rebanho é recolhido e encaminhado a um abrigo seguro, do frio e ataques de animais ferozes.

Davi utiliza com propriedade a relação pastor-ovelha ao descrever o relacionamento com Ele, pois na juventude exercera tal ofício e aprendera da confiança das ovelhas em seu pastor; e na maturidade, demonstra nesse Senhor, a mesma certeza de proteção e providência que uma ovelha precisa depositar em seu guia para a sobrevivência.

A característica de pastor, conferida a Deus pelo povo judeu, é também comprovada no texto registrado em João 10:11, onde o Messias reporta-se a eles dizendo: “Eu sou o bom Pastor: o bom Pastor dá a sua vida pelas ovelhas”.

Verso 2

Ainda, na posição de ovelha, descreve como o pastor guia seu rebanho, levando-o a um local com boas pastagens, pois os cordeiros sozinhos não conseguem distinguir um bom pasto.

Algumas ovelhas preferem escolher pastagens de qualidade inferior. [...] As ovelhas, por dificuldade de faro, são susceptíveis a ingerir tudo o que encontram pela frente, não distinguindo as ervas daninhas, que podem lhes fazer mal ou mesmo levá-las a morte. Se no pasto existirem flores ou sementes coloridas, mas venenosas, que atraiam sua atenção, as ovelhas comerão sem saber que estão se envenenando. Elas têm hábitos repetitivos, pastam nos mesmos lugares até que destruam todo o pasto. Defecam no próprio campo onde comem, liberando vermes e parasitas. Se o pastor não dirigi-las a novos pastos, vão repetindo os velhos hábitos. A ovelha teimosa pastará sempre nos mesmos trilhos. O seu fim será o emagrecimento, doenças e sofrimento.

Quanto às águas, estas têm que ser seguras, literalmente tranquilas, pois as ovelhas sentem medo de correnteza. As ovelhas em geral, são muito medrosas. Elas têm medo, principalmente, das fortes correntezas, e com razão. Por causa de sua pesada capa de lã, elas dariam péssimas nadadoras. Seria como se um homem vestido com um pesado sobretudo tentasse nadar. A lã absorveria a água, e a arrastaria para o fundo. A ovelha sabe, por instinto, que não poderia nadar numa correnteza forte, e por isso não se aproxima de riachos para se abeberar; somente o faz em águas paradas. [...] ele as guia por montanhas e vales à procura de águas tranqüilas, para ali saciarem a sede. Se não encontra um lago tranqüilo, enquanto as ovelhas estão descansando, o pastor apanha algumas pedras e faz com elas uma espécie de represa no riacho, e, assim, até o menor dos cordeirinhos pode beber sem receio.

Verso 3

No versículo terceiro, o salmista diz: “Refrigera a minha alma, guia-me pelas veredas da justiça, por amor do seu nome”. O verbo refrigerar, segundo Ferreira (2001), também possui um sentido de confortar ou acalmar, o que sugere um possível momento de tristeza vivido pelo autor, que, confia no pastor para trazer-lhe alívio à alma.

A alma, simbolizava sua mente cansada e preocupada, possivelmente com algum risco iminente, já que segundo sua biografia registrada na Bíblia, enfrentou inúmeros desafios de guerra enquanto rei sobre Israel.

...] cada ovelha tinha um lugar determinado na fila, e durante todo o dia ela conservava a mesma posição. Algumas vezes, porém, no decorrer do dia, elas deixavam seu lugar e se aproximavam do pastor. Este colocava a mão no focinho ou na orelha do animal, coçava-o de leve e sussurrava alguma coisa ao seu ouvido. Depois, reconfortada e mais animada, ela voltava ao seu lugar. Davi se lembra de como ele próprio estivera perto de Deus antes, de como Deus o protegera quando saíra para enfrentar o gigante Golias, e de como ele o guiara ao longo de sua caminhada para o sucesso. Depois disso, Davi passara a estar sempre muito ocupado, tornara-se mais capaz de cuidar de si mesmo, e não sentia necessidade de uma dependência direta de Deus. Davi distanciou-se de Deus. Depois pecou e isto o fez infeliz. O peso da culpa tornou-se insuportável.

Ele sabia que as ovelhas não tinham muito senso de direção. Um cão, um gato ou um cavalo, quando se extraviam, sabem perfeitamente achar o caminho de volta. [...] Com a ovelha isto não acontece. A ovelha não possui boa visão. Não enxerga mais que oito ou dez metros à sua frente. As campinas da Palestina eram cortadas por trilhas estreitas, pelas quais os pastores levavam o rebanho para o pasto. Algumas destas trilhas terminavam à beira de precipícios, nos quais a ovelha desavisada poderia cair e morrer. Outras iam dar em becos sem saída. Havia, outras, porém, que levavam a pastos verdejantes e a águas tranqüilas. Algumas vezes, o pastor as guiava através de passagens íngremes e perigosas, mas os caminhos por onde passavam sempre iam dar em um bom lugar.

O salmista conclui a petição de ser guiado pelas veredas da justiça, pondo como garantias o valor do nome desse Ser a quem se sujeita, pois na expressão: “por amor do seu nome”, acredita na justiça que esse nome representa, conforme os costumes de sua cultura religiosa. Em muitos casos, no hebraico, alguns nomes traduziam qualidades essenciais, como no caso em que Deus jura pelo seu grande nome, em Jeremias 44:26, querendo dizer que ele jura pela força de seu nome como garantia do cumprimento de sua Palavra.

VERSO 4

Alguém já falou do vale da sombra da morte, um vale que existe na Palestina, e vai de Jerusalém ao mar Morto. É uma trilha estreita e perigosa que corta as montanhas. Sendo um caminho árduo, é muito fácil uma ovelha precipitar-se ribanceira abaixo e morrer. É uma viagem difícil que ninguém deseja fazer. Contudo as ovelhas não a receiam. Por quê? Porque sabem que o pastor vai com elas.

Ou seja, a confiança do salmista era tamanha no seu Senhor, que mesmo tendo de atravessar o mais perigoso vale daquela região, com terrenos acidentados, podendo representar também os riscos que corria, ainda assim ele não hesitaria em segui-lo, pois como a ovelha segue seu pastor, ele o seguiria confiantemente por onde fosse.

Quanto à vara e ao cajado, objetos comumente usados pelo pastor para proteção do rebanho, o salmista faz questão de enfatizá-los, pois conhecia bem suas utilidades.

O pastor sempre carrega consigo um bastão pesado e duro, de cerca de 60 centímetros a um metro de comprimento. Quando Davi escreveu este salmo, provavelmente estava-se lembrando da necessidade que ele próprio tivera de usar aquela vara [...] para proteger seu rebanho. Além da vara, o pastor tem também um cajado, de quase três metros, que funciona como uma extensão do seu braço. A ponta deste cajado é recurvada, formando um gancho. Muitas trilhas da Palestina vão margeando barrancos íngremes. Era muito fácil a ovelha, às vezes, desequilibrar-se e escorregar para o abismo, ficando suspensa apenas por uma saliência estreita. O pastor então estendia o cajado; encaixava-o no peito da ovelha, e a içava para cima, de volta ao caminho certo. A ovelha sente-se instintivamente protegida pelo cajado e pela vara que o pastor carrega.

VERSO 5

Nas campinas da Terra Santa, havia algumas plantas que, se ingeridas, seriam fatais para as ovelhas. Havia outras ainda que possuíam espinhos, e arranhariam o focinho do animal, provocando ferimentos sérios. Antes de iniciar o período de pastagem, o pastor saía com um enxadão, e destruía aqueles "inimigos" da ovelha. Mais tarde, ele vinha e amontoava a erva já seca, e a queimava. Depois disso, o pasto estava pronto para receber as ovelhas. Ele se tornava, por assim dizer, uma mesa preparada para elas. Os inimigos tinham sido afastados.

Fazendo um paralelo aos riscos aos quais Davi era exposto, nota-se que os inimigos retratados através da alimentação das ovelhas, representavam os mais diversos que o rei tinha de enfrentar, e sentar-se a uma mesa farta diante dos mesmos, poderia também simbolizar vitória sobre eles.

Quanto ao óleo ou azeite, na cultura judaica, tinha muita representação. Ele era usado em rituais de consagração envolvendo reis, sacerdotes e profetas; recepção de hóspedes, para lavar e ungir as mãos e os pés; ungiam-se os convidados de honra em banquetes e festas, pelo próprio anfitrião. Usava-se também como remédio, e para as ovelhas possuía uma rica importância; seus ferimentos eram tratados com azeite, porque devido à densa lã, somente o azeite alcançava com facilidade sua pele, trazendo alívio às suas dores.

Quando as ovelhas estão pastando, às vezes elas cortam o focinho contra alguma pedra aguda escondida na relva. Além disso, pode haver espinheiros, e elas sofrerem arranhões e ferimentos. Outras vezes, a subida era íngreme, e o sol estava muito quente, inclemente mesmo. No fim do dia, o rebanho estava muito cansado, sem forças. Ao chegarem ao aprisco, o pastor se punha à entrada e examinava cada ovelha que passava. Se ela tivesse algum ferimento, ele lhe aplicava um óleo balsâmico que ajudava a cicatrizá-lo, e evitava a infecção. A ovelha ficava boa logo.

Outra peça dos apetrechos do pastor era um vaso de barro que estaria cheio de água. Era um tipo de jarro que conservava a água sempre fresca, pelo processo da evaporação. À medida que cada ovelha se aproximava, ele mergulhava na água uma grande caneca cheia até a borda, e a estendia para o animal. A ovelha sedenta e cansada sorvia com prazer o líquido restaurador.

VERSO 6

A bondade e a misericórdia que Davi menciona, são os cuidados de Deus, dos quais não deseja se afastar. Afirma que habitará em sua casa por longos dias, ou seja, não se apartará do pastor, tal qual uma ovelha pode fazer por rebeldia ou por vacilo, ocasionando riscos de ser tragada por um animal ou morrer de sede, fome ou frio.

Neste salmo Davi compara-se à ovelha, ao meditar nos livramentos que obtivera em momentos de turbulência, enquanto rei da nação israelita, e atribui esses livramentos ao verdadeiro Pastor de Israel, conforme assim se denomina YHVH.

No salmo 23, vemos: A exaltação que Davi atribui Àquele que ele chama de Senhor, bem como a confiança e dependência depositada neste Ser, Davi simplesmente acredita de forma convicta que está sob os cuidados de um Ser, que é o verdadeiro responsável pela sua sobrevivência, pela manutenção da sua vida; Davi é a ovelha que exalta, confia e depende daquele que ele o tem por Pastor a saber, YAHVEH.

Ovelha inteligente!

Graça E Paz.

Thiago G. Sanchez

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